'O dicionário regista, fixa e amarra a linguagem. Mas a tentativa de apanhar na rede das palavras o que ainda não temos e nos escapa é o motor da escrita, por isso mais interessante do que a certeza de dizer o que se julga ter. (...) A escrita do poema vai-se fazendo, de facto, como quem repetidamente cria e muda um cenário por onde a imaginação deambula, recriando o corpo do outro no próprio acto de escrevê-lo.'
ele disse: e se formos agora?
ela disse: podemos (?)
ele disse: poupamos tempo.
ela disse: (boquiaberta, com os olhos fixos)
ele disse: então?
ela disse: vamos.
{isto é sobre a criação de um instrumento de expansão do tempo e, consequente, descrição de um acto de generosidade inominável. tenta-se aqui fixar não descrever. isto é sobre um combate.}
{title: text: joão barrento, «umbrais: o pequeno livro dos prefácios», cotovia, 2000, pp. 27-29.