"Há três dias que ando metido na ria, com a barba por fazer, sujo como um ladrão de estrada, e fora de toda a realidade. Afigura-se-me que vivo num país estranho - amplidão, água e sonho. (...)
Há cinquenta anos que não lembra que morresse aqui ninguém de desastre no mar. Ás vezes a onda vira o barco, envolve os homens e deixa-os sem sentidos. Quando os tiram por mortos, para fora do mar, metem-nos no sal como as sardinhas, «para lhes apertar os ossos». É grande remédio, dizem. Ano passado, houve um que, depois de estar no sal quarenta e oito horas, ainda tornou a si."
{title: 'daydreaming', dark dark dark, 'wild go', 2010. images: 'O sal', maria gabriela llansol, 'os pregos na reva', portugália editora, 1962, pp. 69 - 80. text: raúl brandão, 'os pescadores', estante editora, ed. 2010, pp. 76 e 100}