taxionomia

perceptio




'Um homem na idade madura era um erudito, conhecia línguas orientais, estudara a cultura árabe como se nela tivesse sempre vivido através dos séculos; tudo sabia, de tudo se lembrava, tudo ligava num grande ramo perfumado sobre o qual dormia, à noite. Mas uma vez, na hora sexta do dia, que é o instante da aurora e da chave dos pesadelos, perdeu por completo a posse de seus livros e estudos, na memória. Ficou então a meditar até à noite, ficou ainda a meditar na outra noite; como não estava acordado, nem dormia, e não obstante a perda de memória, a visão de tudo no tempo o penetrava, disse para si mesmo: - «Tenho olhar perdido no que soube».'.

é o saber. o saber. o que interessa infinitamente é o saber. esta é a chave para a minha falta de tudo. para o empobrecimento das membranas. para a poeira sobre as raízes. o que me interessa é saber infinitamente, escrevia ela. e dela recebo a ordem: interessa-me infinitamente o saber. encontrei a chave. 

{vou festejar para sempre - sim, para sempre - este dia. isto é um festejo solitário sobre a descoberta de. isto é um festejo do saber que o que me falta é 'o saber'. isto é sobre o entendimento do desencadear da percepção. entenda-se: já não roubo isto a mim mesma.}

{image: 'nothing personal', dir. urszula antoniak, 2009. text: maria gabriela llansol, 'uma data em cada mão. livro de horas I.', assírio e alvim, 2009, p. 151.}