'Mesmo no começo, para mim fazer filmes era: colocar-se a câmara algures e dirigi-la para alguma coisa muito concreta, e depois não fazer mais nada, deixá-la apenas correr. E os filmes que mais me impressionavam eram também os dos realizadores muito, muito antigos, da viragem do século, que gravavam apenas e se admiravam que depois houvesse algo no material. Estava-se, muito simplesmente, muito fascinado pelo facto de se poder fazer uma imagem de alguma coisa em movimento e de se poder revê-la. Um comboio entra na estação, uma mulher de chapéu recua um pouco, há fumo, e depois o comboio pára. Os pioneiros do cinema filmavam à manivela, alguma coisa como isto, examinando-a no dia seguinte, muito orgulhosos e contentes. - É mais olhar do que transformar, ou mover, ou encenar que me fascina na realização. Que possamos descobrir alguma coisa, que nos possa ocorrer alguma coisa, isto é que eu acho muito mais importante do que tornarmos nítida alguma coisa.'
{title: 'Celluloid Heroes', The kinks, 'Everybody's in Show-Biz', 1972. video: 'Falsche Bewegung', dir. Wim Wenders, 1975. text: Wim Wenders, 'A lógica das imagens', Edições 70, 1990, pp. 13 e 14}