'as correntes descendentes causam por vezes, aos pilotos, uma estranha sensação de desconforto. o motor gira, mas a gente afunda-se. empinamos o avião para salvar a altitude, mas ele perde velocidade e fica à deriva: continuamos a afundar-nos. soltamos a manche, com receio de termos puxado demais, deixamo-nos derivar para a direita ou para a esquerda, a fim de nos encostarmos à vertente favorável, a que recebe os ventos como um trampolim, mas afundamo-nos igualmente. parece que o céu inteiro desce. e então sentimo-nos apanhados numa espécie de catástrofe cósmica. não há mais or onde fugir. é em vão que tentamos dar meia volta, para apanharmos, atrás, as zonas onde o ar nos sustentava, sólido e maciço como um pilar. mas já não existe pilar. tudo se esboroa e escorregamos, num desmoronamento universal, para a nuvem que sobe molemente, se ergue até nós e nos absorve.
«por pouco não me tinha já entalado - dizia-nos -, mas ainda não estava convencido. apanham-se correntes descendentes por cima das nuvens que parecem estáveis, pela simples razão de elas se recomporem indefinidamente à mesma altitude. tudo é tão bizarro na alta montanha...»
«por pouco não me tinha já entalado - dizia-nos -, mas ainda não estava convencido. apanham-se correntes descendentes por cima das nuvens que parecem estáveis, pela simples razão de elas se recomporem indefinidamente à mesma altitude. tudo é tão bizarro na alta montanha...»
E que nuvens!'
o baloiço, caminhar às 2 da manhã, um documentário sobre auscultadores, um cão chamado spock, trinta e quatro cafés, o love-story, a padaria, uma mochila com roupa suja, um lápis do batman, seis melancias, gaiolas, uma régua com dinossauros, uma ida aos correios, uma gravação de uma lavagem automática, quatro horas e quinze minutos de corrida, onze horas de viagem para um concerto catarse, seis horas de pó, catorze filmes, a jeanne moreau, seis livros (do princípio ao fim) e cento e trinta e seis horas e meio de sono.
e que nuvens (...)
{title: bowerbirds, the ticonderoga, Hymns for a Dark Horse, 2007. text: saint-exupéry, antoine, terra dos homens, trad. artur parreira, editorial aster, 197(...), p. 35}