taxionomia

da trincheira

'estiveste dias naquilo. dias embrulhados em livros e álbuns, recortes de guerra, recortes (...) ontem disseste para me despir. disseste: preciso do teu corpo. e eu deixei a roupa pendurada na cadeira ao pé do móvel da televisão, vi o computador a piscar aquela luz estranha e os teus olhos dentro da máquina fotográfica, escondidos, a admirar as projecções das imagens dos outros, as imagens de guerra no meu corpo, como se eu fosse o teu combate, como se a minha pele fosse possibilidade de imprimires a vergonha e a dor.
sabes?
dentro da tua máquina não tenho salvação, não há trincheira. e, na linha da frente, não te compreendo.
não quero compreender. fica com a minha pele e faz dela o teu álbum de fotografia.'


{reis, patrícia, egoísta, junho 2005, p. 17}